Há cinco meses começou a minha aventura de voluntariado em Moçambique e com esta também a minha aventura em um infantário, uma espécie de casa de família, num dos bairros de Maputo (capital de Moçambique) chamado Katembe.

Assim que cheguei, algumas crianças do centro acolheram-me, embora parecessem um pouco assustadas por conhecer uma pessoa totalmente diferente deles, que faria parte das suas vidas a partir daquele momento, eles logo aproximaram- se de mim, ajudando-me a carregar algumas coisas minhas para dentro de uma das casinhas que compõem o centro, onde eu e o outro voluntário iríamos viver. Logo depois de nos instalarmos, conhecemos a diretora do centro e alguns dos seus colegas funcionários do centro, como assistente social e pedagógica. Com eles, elaborámos um plano das várias atividades que faríamos com as crianças, como musicoterapia, arteterapia, a terapia teatral, a aprendizagem do inglês através de jogos lúdicos e recreativos, até mesmo aprender a tocar diversos instrumentos musicais.

Com alguns problemas nos meses seguintes, eu e os outros voluntários do meu grupo conseguimos realizar essas atividades. Sempre recebemos apoio suficiente da diretora do centro e o que tornou as coisas mais fáceis. Infelizmente, tem sido e ainda é bastante difícil ter a mesma visão sobre certas formas de realizámos as atividades com os funcionários do centro, mas após alguns desentendimentos sempre conseguimos resolvê-los. Em relação às crianças, componente fundamental do centro, haveria bilhões de coisas a dizer. Eles têm isso uma energia incrível, que mostraram desde o início. Estão sempre dispostos a aprender sobre nós como pessoas e sobre as actividades que temos para oferecer.

Apesar de que tenham tido e ainda tenham vidas muito difíceis, e apesar de que tenham crescido e sido tratados como um adulto desde cedo, até mesmo dentro do centro, eles são sempre super felizes e cheios de energia, e acredito que essa seja uma das coisas que mais apreciei. Muitas vezes me pergunto onde encontram toda a força e energia que têm para enfrentar qualquer desafio que a vida coloca diante deles, apesar de serem muito pequenos, às vezes.

Em Itália temos um estilo completamente diferente de lidar com as coisas. Como crianças e como adultos, somos insatisfeitos. Crescemos com todos os confortos possíveis e imagináveis e apesar disso, sempre sentimos a necessidade de ter mais. Por outro lado, aqui as crianças, muitas vezes não têm oportunidade de ter nada, nem mesmo a atenção parental que nós consideramos garantida, aqui, nada é garantido. Nada aqui é garantido. Meninos de 7/10 anos têm-me ensinado aos 22 anos, outras perspectivas, outras formas de encarar a vida. E por isso, serei sempre grato a eles, da mesma forma, também espero deixar algo para eles.