TESTEMUNHO

Construindo Com A Música

Maputo, entre a música e os encontros

Testemunho de Julho 2022 – Corrado, professional do projecto “Construindo com a Música”, leva-nos à descoberta de Maputo e da sua experiência em Moçambique, culminando com o encontro com o Presidente!

“Protegido”: esta é a palavra que a nossa voluntária de Serviço Civil, Silvia, escolheu para descrever os beneficiários do Centro das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração das Mahotas.

A instituição, localizada num bairro suburbano de Maputo, atende crianças, adolescentes e adultos com diversas formas de deficiência mental e física, desde as mais ligeiras às mais graves. Trabalhar e ajudar neste setor em Moçambique é um verdadeiro desafio: “As pessoas veem a doença mental como um feitiço, por isso as famílias decidem recorrer aos curandeiros e médicos tradicionais, sobretudo nas zonas rurais ou suburbanas”, diz-nos Irmã Encarnação que trabalha no Centro há muitos anos juntamente com mais quatro Irmãs. O estigma associado a este tipo de doença é muito forte e o doente fica entregue à sua sorte por falta de meios dentro da família e apoio das instituições estatais. Até as crianças são vítimas deste desinteresse: muitas vezes o pai não aceita ter um filho doente e todo o peso dos cuidados recai sobre as mães.

Estes preconceitos cria a marginalização, socialmente desfavorecidos e párias que não conseguem encontrar o seu lugar no mundo sociedade e isso ninguém quer. Mas isso não acontece dentro do Centro Mahotas: toda a gente que entra retira os adjetivos que a sociedade lhes deu e assumem a dignidade de pessoa. De ser humano. Durante o dia todos são chamados a fazer alguma coisa, todos podem falar, todos se podem expressar, todos podem aprender e ensinar de acordo com as suas capacidades e aptidões. Ninguém fica para trás.

A Dora, que foi educadora no Centro no ano passado, viveu de perto as dificuldades do dia-a-dia: “Não é fácil falar de saúde mental, porque saímos do portão do centro deparamo-nos com um mundo complicado, onde um menino com síndrome de Down consegue entrar no chapa com dificuldade. Não é por maldade, senti em primeira mão o acolhimento e a generosidade do povo moçambicano, mas por falta de informação sobre o que continua a ser um tabu muito forte.”

A Sílvia, por sua vez, fazia teatroterapia com os doentes do Centro: «Creio que num contexto como o africano, onde muitos materiais são escassos e onde a abordagem educativa é muito rígida, tanto na família como nas escolas, trabalhar com o corpo é muito importante. As nossas primeiras sensações, os nossos primeiros traumas, o corpo é o meio que liga o nosso mundo interior com o exterior. A partir disto, podemos alcançar uma consciência muito profunda do que somos e do que queremos ser, e essa é a única forma de estarmos em paz primeiro connosco próprios e, consequentemente, com os outros, para criarmos uma sociedade mais justa.” Esta actividade é ainda mais importante para aquelas que são muitas vezes discriminadas pelo seu corpo: o sonho de Sílvia de um mundo onde ninguém fica para trás é igual a AGAPE e, por mais difícil que pareça, o Centro de Mahotas mostra-nos que os milagres podem acontecer e que toda a pessoa comprometida, mesmo que apenas com um gesto gentil ou um sorriso, pode fazer a diferença.

“Supões que indo para um país em desenvolvimento és tu que vais ensinar, quando, na realidade, és tu que aprendes que com muito menos recursos e muita dedicação consegues fazer coisas maravilhosas.” Este o testemunho da Dora.

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[ A.G.A.P.E. MOçAMBIQUE ]