A ideia deste projecto vem de longe: perceber como entrar em contacto com as crianças e os jovens Moçambicanos, fazer com que se abram e ajudá-los a comunicar o que têm dentro de si, com espontaneidade e criatividade.

É o Antoniano de Bolonha que inicia o projeto-piloto. Em 2017, eu, country manager da AGAPE e psicoterapeuta, e Marinella Maggiori, musicoterapeuta do Antoniano, partimos para Maputo para fazer formação com alguns jovens: Soares, Omar, Esperança, Luciana e José Rafael. O projeto ARMONIOSAMENTE tinha como objectivo utilizar a arte e em particular a música como ferramenta para ajudar as crianças e os jovens a crescer saudável: através de uma abordagem distante do ensino a que estamos habituados e com a utilização de ferramentas da música tradicional, o projeto visa estimular os processos de comunicação verbal e não verbal, melhorar a memória e autonomia dos beneficiários. Através das diversas oficinas de música, teatro, dança e arte, as crianças puderam expressar à sua criatividade e fortalecer a sua interação com o exterior, sobretudo na escola e com a família.

Os resultados do primeiro período de intervenção foram completamente superiores às expectativas, sobretudo no que diz respeito ao interesse que a musicoterapia, e a arte-terapia em geral, têm despertado nas comunidades, em instituições e em geral junto do público moçambicano. As crianças que foram treinadas em musicoterapia e arte-terapia ao longo dos 18 meses de projeto, ficaram fascinados pela disciplina, pelas técnicas e decidiram continuar o seu crescimento como profissionais com cursos universitários direcionados. O sonho deles (mas também o nosso!) é constituir a primeira equipa de arteterapeutas e musicoterapeutas moçambicanos: Esperança está a estudar psicologia clínica, Luciana estudará ciências da educação e juntas irão aprofundar, as técnicas de Teatro do Oprimido e de terapia teatral, Soares e Omar, atualmente músicos autodidatas tradicionais, estudam música e continuam a ganhar experiência como musicoterapeutas, e José Rafael vai estudar terapia de dança-movimento.

Desde 2019, houve uma troca de testemunho: a AGAPE substituiu Antoniano na liderança do projeto, que passou a se chamar ENTENDARTE. Nestes dois anos os nossos artistas continuaram a trabalhar incansavelmente: aos 5 jovens iniciais juntaram-se outros profissionais, italianos e europeus, que para além de trabalharem directamente, formaram e melhoraram as competências dos jovens moçambicanos. Além disso, continuamos a apoiá-los nos seus estudos através de seminários, supervisão laboratorial e também através de atividades de demonstração nos centros e escolas públicas e privadas moçambicanas. Até hoje, alcançamos a mais de 400 crianças e jovens e levamos o projeto a mais de 12 centros. Mas não queremos parar por aí: o outro objectivo que pretendemos é fazer compreender plenamente, incluindo as comunidades em que operamos, o papel da arte no desenvolvimento integrado da pessoa e, em particular, da criança.

2020 marcou um forte abrandamento das atividades: a partir de Março o país encerrou as escolas e apenas em outubro algumas aulas recomeçaram já no final do ano lectivo (que decorre de Fevereiro a Novembro em Moçambique). Isso tornou o trabalho dos nossos musicoterapeutas ainda mais urgentes, e eles foram incríveis. Não se desanimaram, após um momento inicial de desorientação, compreenderam que não podiam esperar pela volta à normalidade para fazer alguma coisa. Onde não podiam trabalhar com música, em vez disso ajudavam para que as crianças estudassem e se atualizassem nas disciplinas em que estavam mais atrasadas, trabalhavam em pequenos grupos, colocaram-se à disposição da comunidade criando máscaras e distribuindo gel de higienização, aumentaram a consciencialização sobre o COVID e não deixaram ninguém para trás. Tudo isto, nos faz compreender o quanto interiorizaram a importância da gratuidade como forma de estar: a musicoterapia e a arteterapia em geral, são apenas os meios para um propósito maior, a generosidade para com os outros e a responsabilidade em direção à sua comunidade.

Valentina Gianni